16 de dezembro de 2008

Subconsciente

Em um impulsso irritado, ela avança furiosa contra a garota, fazendo-a tropeçar nos pés e cair na poltrona do outro lado da sala. Já bastava e não havia nada nas frases curiosas e apelativas que a interessasse mais. 

O silêncio finalmente inundara o aposento, o trepidar da lareira se confundia com a respiração forte das duas. E a luz pálida e trêmula conseguia tornar tudo mais sombrio do que já era. 

As mãos firmes, finas e brancas agarravam os dois braços da poltrona com uma força intensa, fazendo com que o corpo dela se curvasse para frente, até quase tocar com a ponta do nariz o rosto da bela jovem que lá estava sentada, encolhida no veludo rubro.

Os olhos da mulher de pé esquadrinhavam cada detalhe da feição de medo e curiosidade da delicada moça de cabelos cacheados, encaravam seus castanhos escuros mais seduzindo do que procurando algo. Mas aquele silêncio tinha um quê de malícia e maldade. Estava decidida a lhe convencer, a tomar nos braços aquela que parecia ser a pessoa mais furtiva que já conhecera. E o pensamento de dobrar o gênio impetuosos daquela morena de cachos compridos era uma diversão.  

- Se todos somos essa colcha de retalhos, não melhores que espelhos quebrados, pendendo para todos os lados a todo tempo, então, mon cherrie, que se levantem todos e ergam suas taças do melhor vinho e saúdem à sua grandeza e sua tragédia... - ao começo a frase tinha o ardor de um trovão, os gestos no ar, que fizeram uma das mãos se soltar mas nunca afastando o corpo, lembrava uma pequena encenação, logo num quase sussurro diz: - Pois não há mais nada que fazer se não saudar. - Um sorriso malicioso percorreu seus lábios então, - E aproveitar a vida que lhe resta, mon amour. 
Inerte, imóvel e hipnotizada, a garota parece quase ter levado um choque ao ser desperta pelo toque da mulher a sua frente, que conduziu com um dedo algumas mechas de cabelo dela para trás da orelha, com olhares famintos atentos ao que fazia. Exageradamente devagar se aproximou do pescoço da jovem, tocando ainda com não mais que a respiração quente sua pele. 
Foi então que a outra mão arrematou urgente a nuca da garota puxando a para si e despejando as únicas palavras que faltavam ser ditas. 
 
- Quero você!

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