26 de outubro de 2011

Les sauvages


Ela não existia, mas insistia estar ali. 
Como que zombando da realidade, fez pouco caso da verdade.
Deixou-se embriagar pela poesia, aquela mulher. 
Depois que foi embora levou junto a  fantasia. 
E o dia nasceu, sozinho, e esperançoso. 
Mas nunca tão sedutor quando a senhorita. 

Arquitetas

Construímos experiências, pontes imaginárias, que ligam mundos que ainda não existem.
Sentimos dentro do peito um lugar, um gosto, que ainda não se permitiu concretizar.
Somos feito arquitetas imaginando linhas de código como artistas compondo uma obra.
Somos nada, um nada otimista, apostando na vida, imaginando se ela se dobra.
— Mtrx

13 de outubro de 2011

Codenome Laurent


Para as moças passando pela praia, ele era apenas um rapaz novo, bonito e de jeito charmoso de olhar. Um desses tipos "cools", sentado sozinho, em uma mesa com toalha branca no deck de um bistrot rústico a beira mar. Verdade que ele se sentia exatamente isso: um estrangeiro em uma terra fantasiosa, muito mais quente que a França e com mulheres ainda mais bonitas.

Naquele dia completava seis meses desde que começara a viagem pela América do Sul e a garrafa de vinho, que ele vinha guardando pra levar de "souvenir" e tomar em uma "ocasião especial", fazia muito mais sentido ser aberta ali mesmo, naquela mesa de um bistrot qualquer de uma praia em algum lugar do Brasil.

Parecia que estava comemorando silenciosamente todas as pessoas, lugares, mulheres e bebidas que tinha tido pelo caminho. Cada aspecto de si que veio à tona em um lugar tão estranho e inusitado. Enquanto girava o copo e via o reflexo do sol no líquido roxo-avermelhado, quase conseguia sentir o cheiro de casa novamente e isso fez com que toda aquela imagem ao seu redor virasse um lembrança guardada em uma garrafa de vinho, e a rolha, uma passagem de avião.

Levaria um pouco dessa essência consigo, embora sendo prático, tudo acabaria logo e "todos" saberiam que ele estava voltando, no momento que pisasse no saguão do aeroporto. E esse pensamento conseguiu fazê-lo suspirar cansado ao relembrar que teria de fazer tudo de novo e reafirmar seu lugar. Seis meses talvez fossem pouco para colocar os planos em prática, mas a memória das pessoas era muito curta parar se arriscar, principalmente de tipos como aqueles: violentos e infantis.


"Sua conta, senhor"
"Obrigada"

6 de outubro de 2011

Cereja

bits e pequenos estímulos,
viagens longas e sorrisos solitário.
reflexos em janelas de ônibus,
certo inesperado.

contrariando tudo que eu esperava,
alguns fios foram cortados.
contrariando tudo que eu pensava,
valeu a pena senhores, valeu a pena.