9 de maio de 2008

A moçinha no chão da cozinha escura

A moçinha do chão da cozinha têm tudo.
Têm família e têm amigos. Têm sorrisos e felicidade.
A moçinha que esfria-se no chão da cozinha caminha há anos feliz.

Só que de tempos em tempos ela sente o peso do que teve de abidicar por sua felicidade.
De tempos em alguns ela lembra-se de onde veio, do que passou e como foi.

Esse é o tempo onde ela vê quem realmente é, o imutável.
Na poça de lágrimas do chão da cozinha escura ela ainda escuta
doces palavras susurradas.
"Por quê choras?"

E nem consegue imaginar a vida sem aquela voz.
Congelada há tempos num "puzzle" infeliz de desencontros.
Onde nenhuma peça apertada, reposicionada ou virada muda
suas maiores incertezas e certezas.

A moçinha do chão da cozinha em preto e branco, sempre volta.
E cada volta traz à tona tudo que há de ruim e tudo que há de bom.
Pergunta-se "O que será que me dá...?" nas palavras do mestre.
E as respostas estão na ponta da língua e trancadas a sete chaves na garganta.

Ela não faz, não pensa, não sente. Respira e espera passar.
Como tudo que passa, que se passa e transpassa.
O tempo as vezes é exceção e não exerce sua função.
Até que o vento mude as dunas de lugar...
A moçinha continua se encolhendo e esperando anciosamente
pela voz lhe apanhar.

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