6 de janeiro de 2011

Ensaio

Não é tão fácil quando acreditamos se tratar
de algo, supostamente, maior que o corpo.


Note, acontece sempre quando parado.
Um cheiro volta, como uma nova lembrança esquecida, parecendo uma pena, acaricia o peito, entorna o pescoço, sobe os cabelos, arrepia cada centímetro conhecido de pele.

A respiração é algo tão interessante no silêncio. O subir e descer do peito, o repouso dos olhos, os contornos agudos do rosto, tudo se move na mais delicada calma. São horas que se passam em minutos.

Um movimento imperceptível vira um barulho estrondoso entre os lençóis. Mudar a posição de uma mão, de um dedo se torna uma expectativa. Aguçam-se os sentidos, faz-se escutar mais, sentir mais e em algum momento duas respirações fundem-se... é supremo.

E para que o corpo seja protagonista de algo maior que ele, não se pode tomá-lo como fim. Ele é o meio e entre seus meios alcançam-se sentidos indescritíveis. Ainda assim, não são as curvas, não são as sardas, não é o jeito como o cabelo cai, nem o cheiro da pele. São os sentidos, que vem do corpo e o transcendem. São impulsos nervosos, pulsação, sangue, calor e suor.

São do corpo para o corpo ludibriando o corpo.
É o que somos, embora nos olhemos de fora dele.
É sempre o corpo.

Um comentário:

  1. Que delícia de ensaio.
    E nessa profusão de palavras, sentidos e pele evocamos nos poros o pleno desejo em forma de delicadezas.

    Uma beleza de confissão!
    Beijos, Dama!

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